As relíquias do Santo Condestável
Depois do terramoto de 1755, as poucas ossadas de D. Nuno Álvares Pereira que sobreviveram à catástrofe foram colocadas numa réplica do seu túmulo em madeira, a 21 de março de 1768, onde ficaram até 14 de março de 1856. Depois, foram removidas e postas numa urna forrada a veludo, a 9 de março de 1895. Em 1912, foram depostas num relicário de prata e devotamente percorreram o país. Até que, em 1967, as relíquias foram roubadas e nunca mais recuperadas.
Outros ossos do Santo e Guerreiro, que por cautela antecipada estavam guardados noutro lugar, substituíram os roubados e foram divididos em duas partes, uma destinada à veneração na capela da Ordem Terceira, no Largo do Carmo, ao lado das ruínas do convento, e outra para a igreja do Santo Condestável, em Campo de Ourique, onde as ossadas ficaram numa urna debaixo do altar-mor.
A sepultura original, conforme Frei D. Nuno rogara como esmola pouco antes de falecer, era “uma mortalha e uma cova para o corpo”. Portanto, campa rasa simples e humilde. Mas algum tempo depois foi construído um túmulo condigno com a sua grande pessoa, inscrevendo-lhe o seguinte epitáfio: “Aqui jaz o famoso Nuno, o Condestável, fundador da Casa de Bragança, excelente general, beato monge, que durante a vida na Terra tão ardentemente desejou o Reino dos Céus depois da morte, e mereceu a eterna companhia dos Santos. As suas honras terrenas foram incontáveis, mas voltou-lhes as costas. Foi um grande Príncipe, mas fez-se humilde monge. Fundou, construiu e dedicou esta igreja onde descansa o seu corpo”.
Réplica do túmulo de Nuno Álvares Pereira no Convento do Carmo, Lisboa
O túmulo estava junto ao altar-mor e continha um único corpo amortalhado, com uma espécie de gaveta isolada que protegia a cabeça, evitando o contacto desta com a terra e a cal. Este artefacto, caído em desuso cerca de um século antes da morte de D. Nuno Álvares Pereira, era igual ao dos lendários cavaleiros da Távola Redonda cujos feitos o haviam inspirado tanto desde a infância. Aliás, a sua mãe, D. Irene, apelidava-o em pequeno de Galaaz, nome do mais puro dos cavaleiros da Távola do rei Artur Pendragon. O próprio povo, que rompia o chão da igreja para conseguir uma mão cheia de terra santa da sua sepultura miraculosa, considerava-o o último cavaleiro medieval, modelo de justiça e perfeição.
Fonte: https://lusophia.wordpress.com/2009/10/27/nuno-alvares-pereira-o-santo-guerreiro-vitor-manuel-adriao/