Filipe IV (Valladolid, 8 de abril de 1605 – Madrid, 17 de setembro de 1665) foi o Rei de Espanha de 1621 até à sua morte e também Rei de Portugal e dos Algarves como Filipe III até ao início da Guerra da Restauração em 1640. Filipe é lembrado pelo seu patrocínio às artes, principalmente do pintor Diego Velázquez e por governar o Império Espanhol durante o período da Guerra dos Trinta Anos.
Filipe IV - Retrato por Diego Velázquez, c. 1644
Vida
Nasceu em Valladolid e morreu em Madrid. Teve os cognomes de o Gordo, O Grande, o Rei Planeta. Foi, como Filipe III, rei de Portugal, de Nápoles, da Sicília, rei titular de Jerusalém, rei da Sardenha. Príncipe das Astúrias, aclamado rei de Espanha a 31 de março de 1621, aos 16 anos. Rei dos Países Baixos, foi Duque de Milão, Conde da Borgonha e Conde de Charolais, Conde de Artois.
Reinou 44 anos. No Brasil, em 1621, favoreceu a divisão do país em dois Estados: o Estado do Brasil, com as capitanias ao sul do Rio Grande do Norte atual e o Estado do Maranhão, do cabo São Roque à Amazónia.
Foi entregue aos dez anos ao homem forte do reino, D. Gaspar Filipe de Guzmán, conde-duque de Olivares, cuja queda aconteceria a 17 de janeiro de 1643. Adepto de política centralizadora e de submissão das províncias espanholas ao governo de Madrid, com Olivares aumentou o descontentamento de Portugal. O seu valido até 1661 foi Luís de Haro, sobrinho de Olivares.
A 14 de julho de 1619 foi jurado príncipe de Portugal. No começo do reinado, chamou D. Gaspar de Guzmán, fez dele conde-duque de Olivares, seu Ministro e homem forte, no qual depositava a maior confiança e a quem encomendou a administração. Os portugueses aceitaram de bom grado a demissão do marquês de Alenquer, vice-rei de Portugal, substituindo-o por uma junta de três membros, composta pelo Conde de Basto, D. Nuno Álvares Portugal e o bispo de Coimbra. Promulgou os decretos sobre os bens da Coroa, a fiscalização financeira - que feria os interesses do povo e provocaram indignação - arrancou tributos, a título de subsídios voluntários, ameaçou fechar outra vez os Portos do Reino aos holandeses, medidas que contribuíram para a ruína de Portugal, que esperara lucrar com a atividade do novo ministro.
A trégua com as Províncias Unidas estava concluída e a luta recomeçava, na Europa, onde Spínola mantinha o prestígio das armas de Espanha.
As colónias portuguesas eram menos protegidas que as de Espanha. Em 1623, Ormuz caiu no poder dos persas auxiliados pelos ingleses; em 1624, os holandeses tomaram a Bahia, Macau e a Mina e repeliram os holandeses. A Bahia foi reconquistada em 1625 por uma forte esquadra que Olivares mandou aprestar. França, porém, aliou-se aos protestantes da Alemanha, à Dinamarca e à Holanda e um dos planos dos aliados foi o enfraquecimento de Espanha pelos repetidos assaltos às suas colónias pelas esquadras holandesas. Olivares aumentou os impostos aos diversos reinos. Os governadores do reino, o Conde de Basto e D. Afonso Furtado de Mendonça protestaram contra os tributos e vexações. As ordens de Olivares tinham executores em Diogo, secretário do conselho de Portugal em Madrid, e no seu parente, Miguel de Vasconcelos, nomeado escrivão de fazenda e secretário de Estado de Portugal, quando a Duquesa de Mântua, parente do rei, foi nomeada em 1631 vice-rainha de Portugal.
A política europeia estava marcada pela influência dos cardeais Mazarino e Richelieu, que procuraram acabar com a hegemonia de Espanha na Europa. Neste período reacendeu-se a guerra de Espanha com as Províncias Unidas. Apesar de todas as medidas de Filipe IV, o poderio da Holanda tornou-se cada vez maior, como o demonstra a criação da Companhia das Índias Ocidentais em 1621. Não foi de estranhar, portanto, o interesse dos holandeses pelo Brasil, que levou à conquista da Bahia em 1624 e de Pernambuco em 1630. Um pouco mais tarde, os Ingleses apoderaram-se também da ilha da Jamaica.
Vasconcelos tornou-se impopular junto dos portugueses. Os impostos eram cada vez maiores. Olivares tivera a ideia de obrigar os portadores de títulos de dívida publica a um empréstimo forçado, mandando que os tesoureiros das alfândegas retivessem um trimestre de juros aos portadores, a quem os pagava. Com esta simplicidade entendia também Vasconcelos que se deviam cobrar os tributos. Em Évora ocorreram tumultos. O movimento propagou-se no Alentejo, Algarve, Porto e em alguns pontos do Minho.
Restauração de Portugal
Em 1640, Portugal restaurou a independência de Espanha através de um golpe organizado pela aristocracia e classe média do país, descontentes com o domínio espanhol. Seria posta no trono outra dinastia, iniciada por D.João IV, o duque de Bragança.
A tirania do governo do duque de Olivares foi uma das causas das revoltas na Catalunha e em Portugal. O descontentamento dos portugueses tinha levado o duque a colocar à frente do governo de Portugal a duquesa de Mântua, sendo secretário desta Miguel de Vasconcelos. A 1 de dezembro de 1640 estalou a revolta em Lisboa, tendo rapidamente alastrado ao resto do país. A 15 do mesmo mês de dezembro foi coroado D. João como rei de Portugal. Filipe IV procurou ainda impedir a revolução, entrando numa guerra com Portugal, que terminou em 1668.
No país chamavam-lhe " O Opressor". As frotas eram atacadas no mar por piratas e corsários, causando grande prejuízo e registaram-se ataques às colónias em África, na Ásia e também no Brasil.
A Companhia das Índias Ocidentais, criada pelos holandeses, invadiu o Brasil em 1624 conquistando a cidade de Salvador e por lá permaneceram durante quase um ano, até à reconquista levada a cabo por uma armada ibérica em 1625. Em 1630, Pernambuco caiu nas mãos da mesma Companhia e, no ano seguinte, Recife e Olinda, que passaram a ser administrados por Maurício de Nassau. Goa, Macau, Angola e Guiné eram sítios onde se sentia a pressão dos holandeses.
Para sustentar as guerras no Brasil, na Índia e na costa africana, à par das demais contendas em que o império estava envolvido, Olivares fez aumentar os impostos e os portugueses sentiram-se explorados. A revolta cresceu, sobretudo com os rumores de que o dinheiro desaparecia na construção do Palácio do Bom Retiro, nos arredores de Madrid. Surgiram tumultos. Em Évora, a 21 de agosto de 1637, o povo amotinou-se contra os aumentos dos impostos e, para ocultar os impulsionadores da revolta, as ordens aparecem assinadas pelo "Manuelinho". Noutros pontos do país, o motim de Évora fez eco do descontentamento geral e levantaram-se vários tumultos.
O recrutamento de homens para auxiliar o exército espanhol na revolta da Catalunha e de parte da nobreza para acompanhar o rei nas Cortes de Aragão e Valência fora importante em Lisboa, facilitando a ação do pequeno grupo liderado pelo que seria D. João IV. A 1 de dezembro de 1640, um grupo denominado de Os Conjurados invadiu o Palácio da Ribeira, residência da Duquesa de Mântua e matou a tiro Miguel de Vasconcelos, ao serviço dos espanhóis. Foi então consumada a Restauração do Reino, acabando-se o poder da dinastia Filipina em Portugal. A notícia do sucedido chegou a Madrid sete dias após a sublevação, enquanto continuava uma revolta na Catalunha. A 15 de dezembro de 1640, o Duque de Bragança foi aclamado publicamente D. João IV, rei de Portugal.
Olivares foi substituído por D. Luís de Haro. Deram-se em seguida grandes batalhas, como as das Linhas de Elvas, do Ameixial, de Castelo Rodrigo, terminando assim aquela campanha pela Independência com a de Montes Claros, em 1665. Filipe faleceu nesse mesmo ano, pouco depois desta batalha.
Filipe IV enquanto caçador - Por Diego Velásquez c.1633-1636, Museu do Prado
Retrato de Filipe IV Por Diego Velásquez, 1656, National Gallery
Casamentos e descendência
Tinha o noivo cinco anos quando o seu casamento foi formalizado com uma noiva de sete anos. No fim da vida foram-lhe atribuídos 32 bastardos. Só reconheceu um.
Casou por poderes em Burgos em 18 de outubro de 1615 com Isabel de Bourbon, filha da França (Fontainebleau, 22 de novembro de 1603 — Madrid, 16 de outubro de 1644), irmã de Luís XIII filha de Henrique de Navarra e Maria de Médicis. A entrega da filha da França deu-se a 19 de novembro de 1615 na ilha dos Faisões, sendo Isabel entregue pelo Duque de Guise, enquanto os espanhóis entregavam a Infanta Ana d´Áustria para casar com Luís XIII. Tiveram seis filhas e dois filhos.
Politicamente, assimilou a missão de rainha de Espanha. Contribuiu para a queda de Olivares em janeiro de 1643.
Dela nasceram:
Maria Margarida de Áustria (14 de agosto de 1621 - 15 de agosto de 1621)
Margarida Maria Catarina de Áustria (25 de novembro de 1623 - 22 de dezembro de 1623)
Maria Eugénia de Áustria (21 de novembro de 1625 - 21 de julho de 1627)
Isabel Maria Teresa de Áustria (31 de outubro de 1627 - 1 de novembro de 1627)
Baltasar Carlos de Áustria, Príncipe das Astúrias (17 de outubro de 1629 - 9 de março de 1646)
Francisco Fernando de Áustria (12 de março de 1634 - 12 de março de 1634)
Maria Ana Antónia de Áustria (17 de janeiro de 1636 - 5 de dezembro de 1636)
Maria Teresa de Áustria (20 de setembro de 1638 - 30 de julho de 1683), casada com Luís XIV, rei de França.
Casou-se pela segunda vez em Navalcarnero no outono de 1649 com a sua sobrinha carnal (30 anos mais jovem) Mariana de Áustria (Viena, 24 de dezembro de 1635 - Madrid, 16 de maio de 1696), filha do Imperador do Sacro Império Fernando III e da Infanta Maria Ana de Áustria, sua irmã. Tinha sido noiva de seu filho o infante Baltasar Carlos. Tiveram cinco filhos dos quais três varões. Maria Ana enviuvou aos 27 anos, sendo regente de 1665 a 1667 do filho Carlos II. Afastou D. João José de Áustria. Apareceu depois outro favorito: D. Fernando de Valenzuela, filho de um capitão e nascido em Nápoles, que governou até 1675 e de novo em 1677, sendo derrubado por Don João José, que o desterrou. Hostil à nora (Maria Luísa de Orleans), Mariana de Áustria teria contribuído para o 2° casamento do filho Carlos II com Mariana da Baviera.
Filhos:
Margarida Teresa de Áustria (1651-1673)
Maria Ambrósia da Conceição de Áustria (1655)
Filipe Próspero de Áustria, Príncipe das Astúrias (1657-1661)
Tomás de Áustria (1658-1659)
Carlos II de Espanha (1661-1700)
Filhos bastardos:
1 - Fernando Francisco Isidro de Áustria (1621-1629) com a jovem filha do Conde de Chirel, que o rei enviara a Itália.
2 - D. Ana Margarida de São José, encerrada em convento agostiniano, o mosteiro da Encarnação, do qual foi superiora e onde morreu aos 22 anos.
3 - D. João José de Áustria.
4 - Alonso Antonio de San Martin, Bispo de Oviedo; filho de uma dama da rainha, Tomasa Aldama.
5 - Juan Cosío, religioso agustino;
6 - Margarida de São José, descalça carmelita, superiora do Real Mosteiro da Encarnação (morta em 1682).
7 - D. Alfonso Henriques de Santo Tomás (1633-30 de julho de 1692) dominicano que chegou a Bispo de Malaga e Inquisidor Geral de Espanha;
8 - D. Hernando Gonzalez Baldez (morto em 6 de fevereiro de 1702) Governador de Novara, General de Artilharia do Estado de Milão.
9 - Juan del Sacramento, pregador da Ordem de Santo Agostinho.
10 - D. Carlos Fernando Valdés ou de Áustria, governador da Navarra.
11- D. Ana Maria, também filha da atriz Maria Calderón.
Brasão - Filipe III - Rei de Portugal e dos Algarves