Filipe II (em castelhano: Felipe II; Valladolid, 21 de maio de 1527 – Escorial, 13 de setembro de 1598) foi Rei de Espanha de 1556 até à sua morte e também Rei de Portugal e dos Algarves como Filipe I a partir de 1581. Expandiu o domínio espanhol a Portugal, à Flórida e às Filipinas. Foi o primeiro líder mundial a estender os seus domínios sobre uma área direta "onde o sol jamais se punha", superando portanto Gengis Cã, até então o homem mais poderoso de todos os tempos. Os limites do seu império foram denominados em sua homenagem desde o extremo leste das Américas (Filipeia, hoje João Pessoa) ao sudeste insular asiático: Filipinas; do Atlântico centro-ocidental ao Pacífico centro-ocidental passando por todas as longitudes do oceano Índico.
Filipe I
Primeiros anos
Filho do Imperador do Sacro Império Romano-Germânico e rei de Espanhas Carlos V de Habsburgo e de D. Isabel de Portugal, governou um vasto território integrado por Aragão, Castela, ilhas Canárias, Baleares, Navarra, Galiza, Valência, Rossilhão, Franco-Condado, Países Baixos, Sardenha, Córsega, Sicília, Milão, Nápoles, além de territórios ultramarinos na África (Orão, Túnis, e outros), na América e na Ásia (Filipinas). Em termos de política externa, sua mais significativa vitória sucedeu contra os turcos otomanos: a Batalha de Lepanto, em 1571.
Nasceu no Palácio de Pimentel em Valladolid, sendo o primogênito dos seis filhos de seus pais e faleceu no Escorial, onde está sepultado. Chamado ainda o Sábio e o Prudente, foi batizado em 5 de junho, na Igreja do Convento de São Paulo, pelo arcebispo de Toledo, Dom Alfonso de Talavera. Rei consorte da Inglaterra de 1554 a 1558 como marido de Maria Tudor também foi, regente da Espanha desde 1543 se tornou rei do citado país em 1555. Filipe de Habsburgo também conde de Artois, conde da Borgonha, e conde de Charolais por 42 anos.
A partir de 1552 já se tinha tornado rei como Filipe I de Nápoles, da Sicília, Sardenha, rei titular de Jerusalém e duque de Milão. Em 1555 foi também rei dos Países Baixos; em 1556 conde de Holanda, Zelândia e Ostrevant, duque de Gueldres e a partir de 1580 será também o rei de Portugal, Filipe I. Recebeu uma educação humanista, planejada por seu tutor, Juan de Zúñiga, no entanto Filipe nunca se tornaria um erudito pelos padrões renascentistas. Além da sua língua nativa, o espanhol, possuía domínio sobre o português, língua da sua mãe e o latim.
Demonstrou interesse pela arquitetura e a música, além de gosto por atividades ao ar livre, como a caça. Desde os 12 anos foi preparado para os assuntos do governo e aos 16 anos ficou encarregue da regência dos reinos da Espanha, enquanto o pai administrava o Santo Império Romano-Germânico. Assumiu a coroa espanhola em 1556, depois da abdicação do pai em 1555, herdando um vasto império colonial, com uma difícil situação financeira e inimigos poderosos como a: Inglaterra, França e Países Baixos.
Regência e ascensão
Nomeado regente de Espanha, com um Conselho, por Carlos V, em Bruxelas em 22 de outubro de 1555, Carlos V lhe cedeu os Países Baixos, as coroas de Castela, Aragão e Sicília em 16 de janeiro de 1556, e o condado da Borgonha a 10 de junho. A coroa imperial foi herdada por seu tio Fernando, irmão de Carlos V.
Católico devoto, defendeu a fé e se dedicou a interromper o progresso do protestantismo. É considerado por muitos o primeiro rei absolutista de Espanha. O seu reinado começou depois de quebrar a Trégua de Vaucelles assinada com a França em 1556, à qual se uniu ao Papa Paulo IV contra ele. Filipe teve portanto que enfrentar duas guerras ao mesmo tempo, em Itália e nos Países Baixos. Em Itália, o duque de Alba, Vice-Rei de Nápoles, derrotou o duque de Guise e obrigou o Papa a pedir a paz. Filipe concedeu-a, magnanimamente, e o duque de Alba foi obrigado a pedir o perdão do Papa por ter invadido os Estados Pontifícios.
Em Espanha, Filipe prosseguiu a política dos seus bisavôs, D. Fernando de Aragão e D. Isabel de Castela. Foi drástico na supressão da heresia luterana, sobretudo em Valhadolid e Sevilha. Durante o seu reinado ocorreu uma sangrenta rebelião mourisca, no antigo Reino de Granada de 1567 a 1570 que terminou com a intervenção de Dom João de Áustria, seu meio-irmão legitimado. Como resultado os mouriscos, vencidos, foram deportados para outras partes da Espanha.
Apreciação
A 25 de julho de 1554, Filipe II tornou-se rei consorte da Inglaterra pelo seu casamento com Maria Tudor. Na verdade, a função política que ele passou a exercer em Inglaterra a partir de então foi algo um tanto controverso, pois, muito embora fosse conhecido como rei consorte de Inglaterra, tinha os mesmos títulos e recebia as mesmas honras que a sua esposa, além de os atos parlamentares constarem sempre com os nomes de ambos e as moedas serem cunhadas com as efigies de ambos. Isso caracterizaria uma diarquia e, por conseguinte, faria dele rei de Inglaterra, e não apenas um rei consorte, que seria tão somente marido de uma rainha.
O projeto de união pessoal dos dois países falhou com a morte de Maria Tudor em 1558, antes de ter tido um herdeiro. Em guerra contra a França, com quem lutava pelo controle de Nápoles e de Milão e os seus territórios, obteve vitórias nas Batalhas de São Quintino a 10 de agosto de 1557 e em Gravelines em 13 de julho de 1558. Após as vitórias que estabeleceram o seu reinado e consolidaram a hegemonia espanhola na Europa, o monarca assinou com a França o Tratado de Cateau-Cambresis a 3 de abril de 1559.
Como parte do tratado constava o seu casamento com Isabel de Valois (1545–1568), filha de Henrique II da França, que fora prometida a Carlos das Astúrias, o seu filho com D. Maria Manuela. Isabel de Valois deu-lhe apenas duas filhas as infantas Isabel Eugénia e Catarina Micaela, fazendo com que o rei permanecesse sem descendentes masculinos. Seria apenas com o seu quarto casamento, com a arquiduquesa Ana da Áustria, filha do imperador Maximiliano II, que nasceria o herdeiro ao trono, Filipe III de Espanha.
Na área da política externa, apesar da vitória diante dos berberiscos em Malta em 1565, a hostilidade de Espanha com os turcos persistia. O seu meio-irmão, D. João de Áustria, comandando uma frota, obteve uma grande vitória, embora não definitiva, na Batalha de Lepanto em 1571.
Teve primeiros-ministros notáveis: o Duque de Alba, morto em Lisboa dois anos depois da conquista; Rui Gomes da Silva, príncipe de Éboli, morto muito antes do rei; António Perez, que sobreviveu; o cardeal Granvelle, que depois de ter perdido o favor do rei, foi chamado de Nápoles para ficar como regente do reino em Madrid, enquanto o rei ia a Portugal; e Cristóvão de Moura, o último homem forte.
Antes de morrer, o cardeal-arquiduque Alberto, vice-rei de Portugal, foi nomeado governador dos Países Baixos e para o substituir em Portugal nomeou um conselho composto do Arcebispo de Lisboa, dos condes de Portalegre, de Sabugal e de Santa Cruz, e de Miguel de Moura. Foi o último ato importante do seu reinado.
Filipe I
A Coroa de Portugal
Um dos seus triunfos políticos foi obter a União Ibérica, fazendo valer os seus direitos de sucessão em 1581 nas Cortes de Tomar, que tiveram lugar no Convento de Cristo. A política matrimonial prévia das dinastias reinantes facilitou esta união.
Depois da morte do rei D. Sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir, ao ser aclamado rei o cardeal D. Henrique, já decrépito, investiu meios e dinheiro para ganhar com o seu partido a corte de Portugal.
Sete pretendentes disputavam a posse do reino quando morreu o rei em 1580, mas apenas cinco baseavam as suas pretensões em fundamentos aceitáveis:
D. Catarina de Portugal, duquesa de Bragança, filha legítima do infante D. Duarte de Portugal.
D. Filipe II filho da primogénita do rei D. Manuel, com seu marido Carlos V;
Emanuel Felisberto, Duque de Saboia, duque de Saboia, filho da infanta Beatriz de Portugal (filha do mesmo rei D. Manuel) e de seu esposo, Carlos III de Saboia;
António, prior do Crato, filho do infante D. Luís, sendo este filho do mesmo rei D. Manuel;
Rainúncio I Farnésio, duque de Parma, neto por parte de mãe do infante D. Duarte, filho do mesmo rei D. Manuel;
Os que menos direito mostravam eram Catarina de Médici, rainha da França, descendente de D. Afonso III e da sua primeira esposa a condessa Matilde da Bolonha, e o papa, herdeiro natural dos cardeais, que entendia portanto dever usufruir o reino que um cardeal governava assim como podia usufruir uma quinta de que fora possuidor. Dos cinco que apresentavam títulos valiosos, só três disputavam seriamente a coroa: Filipe II, o prior do Crato e a duquesa de Bragança.
O reino de Portugal ficara entregue a cinco governadores dependentes dos Habsburgos, os quais hesitavam em reconhecer Filipe como Rei. Este dispôs-se a conquistar Portugal pelas armas. O prior do Crato fez-se aclamar em Santarém, mas dispunha de poucas tropas. Filipe reuniu exército, entregou-o ao Duque de Alba; confiou ao Marquês de Santa Cruz o comando da esquadra e conservou-se próximo da fronteira de Badajoz. Alba marchou sobre Setúbal; conquistando o Alentejo, atravessou para Cascais na esquadra do Marquês de Santa Cruz, marchou sobre Lisboa, derrotou o prior do Crato na Batalha de Alcântara a 4 de agosto de 1580, perseguiu-o até à província do Minho, e preparou enfim o reino para receber a visita do seu novo soberano.
Filipe procurou não intervir muito na política interna de Portugal e entregou o governo do país a um homem da sua confiança, o Duque de Alba. Além de ser filho de mãe portuguesa, Filipe fora educado por cortesãos portugueses durante os primeiros anos de vida. Filipe, a 9 de dezembro de 1580, atravessou a fronteira, entrou em Elvas, onde se demorou dois meses recebendo os cumprimentos dos novos súditos. Dos primeiros que o veio saudar foi o duque de Bragança. A 23 de fevereiro de 1581 Filipe II saiu de Elvas, atravessou triunfante e demoradamente o país, e a 16 de março de 1581 entrou em Tomar, para onde convocara cortes. Distribuiu recompensas, ordenou suplícios e confiscos, e recebeu a noticia de que todas as colónias haviam reconhecido a sua soberania, excetuando a Ilha Terceira, onde se arvorara a bandeira do prior do Crato, ali foi jurado rei de Portugal a 16 de abril de 1581.
Nas cortes, prometeu respeitar os foros e as isenções e "nunca dar para governador ao país senão um português ou um membro da Família Real". Expediu de Lisboa tropas que subjugaram a Ilha Terceira, em que D. António fora auxiliado para França e partiu para Espanha depois da vitória naval de Vila Franca, em que o Marquês de Santa Cruz destroçou a esquadra francesa a 26 de julho de 1582, obtendo a submissão da ilha. Nomeou para vice-rei de Portugal o seu sobrinho, o cardeal-arquiduque Alberto da Áustria, e depois lhe ter agregado um conselho de governo e de ter nomeado os membros do conselho de Portugal, partiu finalmente a 11 de fevereiro de 1583.
A nova monarquia, associada aos interesses da rama austríaca dos Habsburgos, dominava a Península Ibérica, Nápoles, Sicília, Milão, Sardenha, Bélgica, Holanda e Luxemburgo atuais e partes de França; na Ásia, Filipinas e feitorias na Índia, Pérsia, China, Indochina, Arábia; na África, as guarnições de Ceuta, Melilha, Mazalquivir, Orão, Ifni, Bizerta, La Goleta, Casablanca, Mazagão e Ilhote de Vélez de la Gomera, Angola, Moçambique, Madeira, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Canárias, toda a América menos algumas ilhas das Antilhas, parte dos atuais Estados Unidos e o Canadá, e terras na Guiana; na Oceânia, as Molucas, Ilha de Páscoa, Ilhas Marianas (atuais Ilhas Marianas do Norte e Guam) e Ilhas Carolinas (atuais Ilhas Palau, Estados Federados da Micronésia, Ilhas Marshall e Ilhas Gilbert.
No Brasil português, a "Cidade Real de Nossa Senhora das Neves", fundada em 1585 e hoje denominada João Pessoa, capital do Estado da Paraíba, em 1588 adquiriu o nome de "Filipeia de Nossa Senhora das Neves", em homenagem ao rei Filipe II.
Os Países Baixos e outros problemas
Apesar dos seus inúmeros êxitos, Filipe II não conseguiu solucionar o conflito político-religioso nos Países Baixos pois nenhum de seus governadores conseguiu mitigar a sublevação dos Estados Gerais. Filipe II tinha entregue o governo à sua meia-irmã, Margarida de Parma, mas os nobres, sem influência, uniram-se em conspirações. Protestavam contra a presença de milhares de soldados de Espanha, contra a influência do Cardeal de Granvelle sobre a regente, e contra a severidade dos decretos de Carlos V contra os protestantes.
Filipe II assim decretou a volta do exército e do Cardeal, recusou-se a diminuir a severidade dos decretos do pai. Surgiram assim as dificuldades com os iconoclastas e ele jurou castigá-los, enviando o Duque de Alba com um exército, o que provocou a demissão de Margarida de Parma. Alba se comportou como um país conquistado, mandou prender e executar o conde de Egmont e o conde de Hornes, acusados de cúmplices dos rebeldes, criou o Conselho de Perturbações, conhecido popularmente como Conselho do Sangue, derrotou o Príncipe de Orange e o seu irmão, que juntos tinham invadido o país com mercenários alemães, mas não conseguiu evitar a recaptura de Brille. Teve êxitos militares, mas foi chamado de volta em 1573. O seu sucessor, Requesens, não pode recuperar Leida.
Influenciadas pelo Príncipe de Orange, as províncias concluíram a «Pacificação de Gante», regulamentando a situação religiosa nos Países Baixos do Sul sem intervenção real. O novo governador, Dom João da Áustria, atrapalhou os cálculos de Orange ao aceitar a Pacificação e finalmente Orange resolveu proclamar a deposição de Filipe II nas províncias rebeladas. O monarca respondeu banindo Orange que acabou assassinado, em 1584. Nem assim as Províncias Unidas se submeteram e a Espanha perdeu-as para sempre. Os numerosos interesses económicos e religiosos levaram às guerras que causaram a emancipação da Holanda, da Zelândia e do restante das Províncias Unidas.
As províncias do sul no entanto, foram recuperadas pelo novo governador, Alexandre Farnésio. No entanto, a guerra contra os rebeldes tornou-se mais difícil, com os protestantes sob a liderança de Maurício de Orange, filho de Guilherme de Orange. Filipe II mudou a sua política e cedeu os Países Baixos à sua filha Isabel Eugénia, que se casou com o arquiduque Alberto da Áustria, determinando que as províncias retornariam ao domínio espanhol caso não houvesse descendentes do casamento (1598).
Em relação a Inglaterra, Espanha perdeu a esquadra recentemente construída, chamada de Invencível Armada (1588), golpe do qual não se recuperaria. Mas a luta dos dois países pelo controle marítimo não terminou com a derrota espanhola e seguiu direta ou indiretamente durante muitos anos. Exemplo da monarquia absolutista, o governo de Filipe II foi exercido com o recurso de Conselheiros e de Secretários Reais, baseados numa administração centralizada, marcada por um rigoroso fiscalismo. Completou a obra unificadora começada pelos Reis Católicos. Afastou a nobreza dos assuntos de Estado e entregou os postos a secretários reais oriundos das classes médias, deu forma definitiva ao sistema de Conselhos, codificou leis, realizou censos de população e riqueza económica e impôs prerrogativas à Igreja.
No plano religioso, recorreu à Inquisição contra o protestantismo nos seus domínios. Sob o seu governo foi erigido um dos mais importantes monumentos de Espanha: O Escorial, mosteiro/palácio perto de Madrid, que conta com valioso acervo artístico.
Palácios reais como o Escorial, erguidos por ele ao norte de Madrid tinham o objetivo de espelhar a solidez e a magnificência da estrutura arquitetónica de Espanha. Com os edifícios e catedrais vieram os grandes pintores: Sofonisba Anguissola, El Greco, Juan Pantoja de la Cruz, Juan de Ribera, Diego Velázquez, Zurbarán, Murillo e tantos outros. Com o novo público urbano e cortesão surgiu a novela de Cervantes, a poesia de Calderón de la Barca, de Garcilaso de la Vega, de Luís de Gôngora, de Francisco Quevedo, e as comédias de Lope de Vega, ao mesmo tempo em que a Espanha acompanhava os relatos sensacionais das conquistas feitas por Ponce de León, Hernán Cortés ou de Bernal Díaz del Castillo. Também podemos destacar a narrativa de Garcilaso el Inca. Muitos géneros literários se destacaram naquela época: o épico, o lírico, o dramático e o cómico, além de um produto tipicamente espanhol, a novela picaresca como Lazarillo de Tormes, de autoria anónima e Don Quixote de La Mancha de Miguel de Cervantes. Ao lado dessa riqueza, também prosperou a literatura beata, dos monges, das freiras e dos místicos.
O reinado de Filipe II foi definitivamente a Era de Ouro do Império Ultramarino Espanhol. Entre a descoberta e a decadência passou-se um pouco mais de um século (para George Ticknor, o historiador literário norte-americano que criou, em 1849, a expressão "Idade do Ouro" para as letras espanholas, esse período estendeu-se de 1492 até 1665). A prata e o ouro mexicano e peruano, as essências indianas vindas da conquista das Américas e das rotas orientais, contribuíram para que a arte espanhola atingisse um nível extraordinário.
Filipe I, pintado por Ticiano Vecellio
O caso da princesa de Eboli
A princesa de Eboli, D. Ana Mendoza y de La Cerda, nasceu na província de Guadalajara em 1540, filha única de Diego de Mendoza, Príncipe de Melito e Duque de Francavila, com Catarina da Silva, irmã do Conde de Cienfuentes. Bisneta do Cardeal Mendoza, aos nove anos foi casada com Rui Gomes da Silva, feito príncipe de Eboli, que tinha já 32 anos. O casamento foi consumado quatro anos mais tarde, quando a noiva completou 13 anos. Viveram juntos na corte até 1573, quando morreu o marido.
Rui chegara como menino ou pajem da Rainha Isabel de Portugal e passou a pajem do infante Filipe, ficando bons amigos. Foi secretário pessoal do rei, sumiller de Corps, conselheiro de Estado e de Guerra, intendente da Fazenda, primeiro mordomo do príncipe Don Carlos. Cheio de comedimento e nobreza, chegou a Grande de Espanha. Dos 11 filhos, sobreviveram cinco: dois militares (pensa-se que o primogénito, Rodrigo, soldado em Portugal e Flandres, poderia ser filho do Rei), um poeta, um eclesiástico que chegou a Arcebispo de Granada e de Saragoça, uma monja.
A viúva entrou com a filha para o mosteiro carmelita de Pastrana, fundado por Santa Teresa de Jesus com fundos que eram seus (Teresa fundara também um mosteiro masculino). A intervenção do Rei conseguiu afastar a nova reclusa. Em 1576 na Corte, a amante do rei, fora também amante de António Pérez (nascido em Madrid em 1534), o jovem secretário de Estado, enigmático personagem protegido por Eboli (com suspeitas de homossexualidade, e uma suposta relação em Itália com António Pérez), que era secretário do Rei; e seria talvez amante de Juan de Escobedo, o secretário de dom João de Áustria, que vinha da nobreza mediana da Cantábria.
A 28 de julho de 1579 Filipe II ordenou a prisão de ambos. Seis anos depois Pérez fugiu para Aragão e salvou-se. Ana, acusada de malversar o seu património, foi presa na Torre de Pinto (arredores de Madrid) e transferida para a fortaleza de San Torcaz; em 1581 seria desterrada no seu palácio de Pastrana, sem a tutela dos filhos e ali morreu em 1591.
Casamentos e posteridade
(I) Casou aos 16 anos em Salamanca a 15 de novembro de 1543 com a infanta de Portugal Maria Manuela (Coimbra, 15 de outubro de 1527 - Valladolid, 12 de julho de 1545). Era filha da sua tia a rainha D. Catarina de Áustria (que por sua vez era filha de Joana de Castela e do arquiduque Filipe de Habsburgo) e do rei D. João III. O noivo teve sarna, atrasando a consumação do matrimónio, segundo informou ao imperador o seu pai o aio fiel, Juan de Zúñiga.
1 - Carlos de Espanha (1545-1568)
(II) Viúvo aos 18 anos, em 1551 casou com a prima, Maria Tudor, rainha de Inglaterra, e foi residir para Londres. Casaram a 25 de julho de 1554 na catedral de Winchester. Maria I Tudor nasceu em fevereiro de 1516 no palácio de Greenwich e morreu a 17 de novembro de 1558 com um cancro nos ovários. Era Rainha da Inglaterra desde 1553, filha do rei Henrique VIII e da sua tia, Catarina de Aragão. Onze ou doze anos mais velha do que o noivo, estava envelhecida antes do tempo. Foi um casamento político que deu a Espanha a influência indireta nos assuntos de Inglaterra, onde fora recentemente restaurado o catolicismo. Filipe viveu em Londres, mas era pouco simpático aos ingleses. Partiu em 1555 para os Países Baixos, cujo governo o seu pai Carlos V lhe cedeu, como lhe cedera, um ano antes, o governo de Nápoles e da Sicília. Em 1556, foi-lhe cedido o governo da Espanha, depois do seu pai abdicar e recolher ao mosteiro de San Yuste. Em agosto de 1555, Filipe partiu para Bruxelas e só retornou a Inglaterra dois anos depois. No verão de 1557 despediram-se no porto de Dover. A morte de Maria I afastou os dois países. Filipe teria pedido a sua cunhada Elizabeth I em casamento, recebendo uma negativa[carece de fontes].
(III) Isabel de Valois (Fontainebleau, 1545 - Aranjuez, 3 de outubro de 1568), filha de Henrique II de França, foi a sua terceira mulher. Casaram-se por procuração em Paris a 22 de junho de 1559. O encontro pessoal teve lugar a 31 de janeiro de 1560 na capela do palácio ducal ou do Infantado de Guadalajara, casando-se na missa das velações. A sua mãe era Catarina de Médici, que a havia prometido ao rei de Inglaterra Eduardo VI (morto em 1553) e a Dom Carlos da Áustria em 1558. Pelo tratado de Cateau-Cambresis de 3 de abril de 1559 ajustou-se o casamento, celebrando-se os desposórios na Catedral de Notre-Dame de Paris e estando o rei representado pelo duque de Alba. Isabel cruzou a fronteira a 3 de janeiro de 1560, sendo esperada em Roncesvalles pelo Arcebispo de Burgos D. Francisco de Mendoza, e o Duque do Infantado D. Iñigo López de Mendoza. Levada a Guadalajara, instalaram-se os soberanos no palácio ducal. A sua saúde foi abalada por propensão a contágios e a numerosos abortos. Uma gravíssima erupção de varíola, com poucos meses de casada, quase a matou, e tinha crónicos acessos hemorroidais. Teve alguma intervenção na política nas conferências de Bayonne, onde em em junho de 1565, encontrou o seu irmão o rei de França Carlos IX e Catarina de Médici (o rei recusou-se a assistir, desaprovando a política de transigência da sogra com os protestantes e enviou o Duque de Alba). Outra vez grávida, Isabel abortou; mal tratada pelos médicos, morreu aos 22 anos, deixando 2 filhas.
2/3 - gémeas (1564).
4 - Isabel Clara Eugénia (1566)
5 - Catarina Micaela (1567)
6 - aborto (1568)
(IV) Ana Maria da Áustria ou de Habsburgo (Cigales, Valladolid, 2 de novembro de 1549 - Badajoz, 26 de outubro de 1580), filha do imperador Maximiliano II e da infanta Maria da Áustria (1528-1603), era a irmã mais velha de Filipe. Tinha-se pensado em Ana da Áustria para casar com o seu filho D. Carlos. Filipe submeteu-a a uma enorme espera, até cumprir 18 anos, quando os pais pensaram em casá-la com Carlos IX.
Enquanto isso Carlos, tendo conseguido ser nomeado membro do Conselho de Estado, continuava em busca de um território próprio. Foi suspeito de traição com os rebeldes holandeses. D. Carlos foi preso nos primeiros dias de 1568 numa torre do Alcázar onde morreu de causas nunca esclarecidas em junho de 1568. Os inimigos do pai propagaram que por sua ordem por adultério com Isabel de Valois.
Ana desembarcou em Santander e encontrou o tio pela primeira vez no Alcázar de Segóvia, estando já casados por poderes. A cerimónia de casamento foi realizada em 1570 em Segóvia. Ana morreu quando a corte estava em Badajoz, a caminho de Portugal. Consta que de gripe ou de uma epidemia, quando seguia o progresso das armas espanholas. Dela, o rei teve seis filhos, quatro deles varões. Seria a primeira rainha a ter o corpo sepultado no novo Panteão dos Reis do mosteiro de El Escorial.
7 - Fernando (1571-1578)
8 - Carlos Lourenço (1573-1575)
9 - Diogo (1575-1582)
10 - Filipe III de Espanha (1578-1621)
11 - Maria (1580-1583)