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Costa Gomes (1914-2001) foi um militar de carreira que desempenhou o cargo de Presidente da República entre 1974 e 1976. A busca de reconhecimento internacional do novo regime e a tentativa de encontrar equilíbrios internos marca a sua passagem por Belém.
Militar de carreira passa pelo estado-maior e ocupa o cargo de subsecretário de Estado do Exército, no final dos anos 50.
Em 1972 é nomeado Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, cargo de que será demitido, depois de faltar a uma cerimónia de apoio à política de Marcelo Caetano.
Reocupa o cargo em 30 de Abril de 1974 e após a renúncia de António de Spínola toma posse da presidência.
Empenha-se na definição do rumo da economia e no reconhecimento internacional do novo regime.
Com um mandato num período difícil é apontado como um presidente que procurou equilíbrios entre as várias fações, conseguindo evitar a guerra civil.
Resolve não se candidatar às primeiras eleições presidenciais livres, em 1976.
Temas: História, Século XX
Ensino: 2º Ciclo, 3º Ciclo, Ensino Secundário
Ficha Técnica
Título: “Os Presidentes” (Ep. 4)
Tipo: Extrato de Documentário
Autoria: Alexandrina Pereira / Rui Pinto de Almeida
Produção : Braveant para a RTP
Ano: 2011
Informações adicionais:
Francisco da Costa Gomes (Chaves, 30 de Junho de 1914 — Lisboa, 31 de Julho de 2001) foi um militar e político português. Foi o décimo-quinto Presidente da República Portuguesa, o segundo após a Revolução dos Cravos.
De família numerosa, de 11 filhos e filhas (dos quais três vão falecer antes de chegar à idade adulta), muito cedo Francisco da Costa Gomes fica órfão de pai. Por falta de posses, a mãe decide enviar o jovem para o Colégio Militar, para que possa aí prosseguir os estudos, antevendo-lhe um futuro na carreira de armas. Sobre a profissão militar o próprio diria mas tarde: «se pudesse não [a] teria seguido.».
Militar sempre preocupado com a paz, de perfil civilista, indo ao pormenor de, sintomática e simbolicamente, restringir o uso da farda apenas às ocasiões em que tal lhe era exigido, é no entanto, na Guerra Colonial, de entre os grandes cabos de guerra, o mais renitente em utilizar a força bélica em grandes e pequenas operações, e, paradoxalmente, o que mais êxito teve em termos operacionais e bélicos.
Costa Gomes foi, com uma antecedência assinalável, em 1961, o primeiro chefe militar a defender claramente que a solução para a guerra colonial era política e não militar, não obstante cumpriu com brilhantismo as suas funções como comandante militar da 2.ª Região Militar de Moçambique, entre 1965 e 1969 (primeiro, como segundo-comandante, depois, como comandante) e, seguidamente, como comandante da Região Militar de Angola. Costa Gomes foi de grande eficácia ao conseguir mitigar a capacidade militar e operacional dos movimentos de libertação. No caso de Angola, é reconhecido por muitos que, em 1974, o território estava praticamente pacificado e os movimentos de guerrilha tinham em vista a sua capacidade militar reduzida a quase nada.
Após o 28 de Setembro de 1974, com o afastamento do general Spínola, Costa Gomes é nomeado para a Presidência da República, onde lhe caberá a difícil missão de conciliador de partes em profunda desavença, com visões do mundo radicais e em defrontação, algumas verdadeiramente inconciliáveis. Levará sobre os seus ombros tudo quanto se irá passar até ao Golpe de 25 de Novembro de 1975, onde lhe coube o papel capital de impedir a radicalização dos conflitos poupando o país a enfrentamentos violentos e uma possível guerra civil. Costa Gomes é considerado um dos principais obreiros da instauração da democracia em Portugal.
Francisco da Costa Gomes
Biografia
Francisco da Costa Gomes a 30 de Junho de 1914 em Chaves, distrito de Vila Real.
O pai, António José Gomes (Chaves, Santo Estêvão - Lisboa, Socorro, 1 de Julho de 1922), capitão do Exército, casou em Chaves a 17 de Janeiro de 1901 com sua mãe Idalina Júlia Monteiro da Costa (Chaves, 27 de Maio de 1880 - Porto, 18 de Fevereiro de 1967), tendo constituido uma família numerosa, de onze filhos e filhas.
A infância de Francisco da Costa Gomes é marcada pela morte do pai nas vésperas do jovem Francisco completar oito anos. A sua mãe, com apenas 41 anos, fica a braços com oito filhos para criar e sustentar.
Entre 1924 e 1931 estudou no Colégio Militar, em Lisboa. A escolha do Colégio Militar dá-se , porque com a mãe viúva a família não tinha possibilidades económicas de o colocar a estudar noutro sítio. A passagem pelo Colégio Militar é um perído difícil da sua vida. No seu livro de memórias Costa Gomes conta que se sentiu "bastante violentado" por um conjunto de "regras rígidas de cuja utilidade duvidava". Por outro lado a família não tinha dinheiro para lhe pagar as viagens entre Lisboa e Chaves pelo que Costa Gomeas passava a Páscoa e o Natal em Lisboa e só ia a casa nas férias do verão.
Uma vez terminado o Colégio Militar alistou-se no Exército em 1931, tendo servido em várias unidades militares e progredido rapidamente na carreira, terminando o tirocínio na Escola Prática de Cavalaria em 1936. Tudo isto acompanhado de algum desencanto com a instituição militar.
Em 1943 terminou o curso para Capitães de Cavalaria e a 1 de Janeiro de 1944 é promovido a Capitão.
Em paralelo à sua carreira militar, entre 1939 e 1944 também estudou na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, onde foi aluno de Ruy Luís Gomes, tendo-se licenciado em Ciências Matemáticas, em 1944.
Realizou comissões de serviço nas colónias portuguesas, tendo chefiado a expedição militar a Macau, em 1949, exercendo funções como subchefe e chefe do Estado-Maior naquela região. Segundo as suas próprias palavras a expedição militar foi organizada porque havia o receio de uma possível tomada do território por parte das forças leais a Mao Tsé-Tung. Em Macau Costa Gomes participa na elaboração de um relatório assinado pelo Coronel Laurénio Cotta Morais dos Reis em que se afirma ser uma "fantasia" pretender-se assegurar militarmente a posse do território.
Em Novembro de 1951 é colocado no Estado-Maior do Exército para estudar a possibilidade de mobilizar as forças cometidas à OTAN e ao Pacto Ibérico.
Em 1952, a 8 de Dezembro, casa na Sé de Viana do Castelo com Maria Estela Veloso de Antas Varajão. O casal viria a ter apenas um filho, Francisco Varajão da Costa Gomes, nascido a 16 de Agosto de 1956, Militante Comunista, falecido na segunda metade da década de 80, solteiro e sem geração.
Em 19 de Dezembro de 1952 é promovido a major e nessa qualidade dirige a formação das forças portuguesas a integrar na OTAN. Em 1954 é nomeado para o comando supremo da OTAN (The Supreme Allied Commander Atlantic - "SACLANT" ), em Norfolk, Virginia, nos Estados Unidos, sob a chefia do General Humberto Delgado e onde ao longo de dois anos se tornou um profundo conhecedor dos assuntos da NATO.
Em 1956 regressa dos Estados Unidos e é colocado como adjunto da Primeira Repartição da Defesa Nacional. É nesta repartição que Costa Gomes diz ter a certa altura entrado em desacordo com o general Santos Costa tendo assim conquistado o respeito do general que passou a consulta-lo para todos os assuntos relacionados com a OTAN. Foi também a partir desta altura que Costa Gomes diz ter adquirido uma especial consideração por parte do General Botelho Moniz.
Em 1958 o então tenente-coronel Costa Gomes foi responsável pelo policiamento das acções da candidatura do general Humberto Delgado.
Em Agosto de 1958 Costa Gomes é nomeado subsecretário de Estado do Exército com Botelho Moniz como responsável pela pasta da Defesa Nacional. Poucos dias depois é recebido por Salazar que em convesa lhe terá dito que o considerava o oficial Português "mais bem informado sobre as colónias. Ainda no mesmo ano, em 11 de Abril de 1961, Costa Gomes envolve-se no Golpe Botelho Moniz, intentado pelo Ministro da Defesa. No rescaldo, já depois do “golpe” ter falhado, a 19 de Abril de 1961, Costa Gomes publica uma carta no Diário Popular onde afirma que o problema das províncias africanas é “um complexo de problemas do qual o militar é uma das partes que está longe de ser a mais importante”. Sobre esta carta, a embaixada americana, como que antevendo o futuro político de Costa Gomes, comentou: “É possível que se numa data futura as Forças Armadas acharem necessário dispensar os serviços do Dr. Salazar, o coronel Costa Gomes seja, em vez do general Botelho Moniz, a verdadeira solução”.
Em 1962, exonerado do governo, é colocado na chefia do Distrito de Recrutamento e Mobilização de Beja. Termina o Curso de Altos Comandos em 1964.
Segue-se a experiência como inspector na Direcção da Arma de Cavalaria, em 1964, cargo que acumulará com o de professor no Instituto de Altos Estudos Militares.
Já Brigadeiro, é nomeado segundo comandante e depois comandante da Região Militar de Moçambique, função que exerce de 1965 a 1969.
Na guerra coloinal, Costa Gomes tem uma estratégia original e diferente das de Spinola e Kaúlza de Arriaga. Segundo Costa Gomes, a base da acção bélica na guerra contra-subversiva deveria centrar-se em “servir as populações”. A guerra, dizia o general, devia ser feita «não contra os guerrilheiros», mas «a favor das populações» e acrescentava «não tínhamos por principal missão combater os movimentos de libertação, mas recuperar as populações». Defender as populações, afastando-as da guerrilha, assegurando o seu bem-estar, a ordem e a paz social. A utilização da violência deveria ser o mais possível focalizada.
Em 1970 torna-se comandante da Região Militar de Angola, onde procede à remodelação do comando-chefe e defende um entendimento militar com a UNITA, contra o MPLA e a FNLA.
A 5 de Setembro de 1972 é nomeado 7.º Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas de Portugal, em substituição do general Venâncio Deslandes. A 13 de Março de 1974, pouco antes do 25 de Abril, é exonerado do cargo, depois de se recusar a comparecer numa cerimónia pública de lealdade ao governo de Marcello Caetano, promovida por altas patentes militares (um grupo que ficaria conhecido como a "Brigada do Reumático").
Após o 25 de Abril, é um dos sete militares que compõem a Junta de Salvação Nacional. Entre o dia 29 de Abril de 1974 e o dia 13 de Julho de 1976, foi o 9.º Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas de Portugal.
Por nomeação da Junta de Salvação Nacional, torna-se Presidente da República, após a renúncia de António de Spínola, em Setembro de 1974.
Ocupou o cargo de Presidente da República até Junho de 1976, altura em que as primeiras eleições livres para a escolha do Chefe de Estado em Portugal ditaram a eleição de António Ramalho Eanes. O seu mandato ficará marcado como um período de radicalização do processo revolucionário, sob a influência do PCP e de partidos de extrema-esquerda. Apesar da ambiguidade que muitos vêem nas suas posições, reconhecem-lhe o mérito de ter evitado a guerra civil.
Abandonada a presidência, a partir de 1977, desenvolve intensa actividade nacional e internacional, integrando a Presidência do Conselho Mundial da Paz (uma organização de inspiração comunista e ligações à União Soviética) e a Presidência do Conselho Português para a Paz e Cooperação. Integrava ainda o Grupo de Generais para a Paz e o Desarmamento.
Em 1982 foi elevado à patente de Marechal.
Em 1986 recebeu do secretário-geral das Nações Unidas o galardão de Mensageiro para a Paz.
Num balanço final de vida, Costa Gomes escolhia o epíteto de homem de paz, e elegia, entre as inúmeras distinções de que foi alvo, a de "Mensageiro da Paz", atribuída pelas Nações Unidas.
Costa Gomes faleceu no Hospital Militar de Lisboa, a 31 de Julho de 2001, com 87 anos.
Retrato oficial do Presidente Costa Gomes, por Joaquim Rebocho. Museu da Presidência da República.
Condecorações
Ordens honoríficas portuguesas:
Oficial da Ordem Militar de Avis de Portugal (16 de Setembro de 1950)
Comendador da Ordem Militar de Avis de Portugal (28 de Dezembro de 1953)
Grande-Oficial da Ordem Militar de Avis de Portugal (20 de Agosto de 1971)
Comendador da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito de Portugal (2 de Novembro de 1972)
Ordens honoríficas estrangeiras:
Grande-Oficial da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul do Brasil (21 de Novembro de 1972)
1.ª Classe da Ordem da Estrela da Roménia (15 de Abril de 1976)
Grã-Cruz da Ordem da Grande Estrela ou Ordem da Estrela da Jugoslávia (29 de Abril de 1976)
Grande-Cordão da Ordem do Mérito da Polónia (7 de Maio de 1976)
Grã-Cruz da Ordem Nacional da Legião de Honra de França (20 de Maio de 1976)
Grã-Cruz da Ordem Nacional do Leão do Senegal (6 de Julho de 1976)